terça-feira, 1 de junho de 2010

Até um dia


Já a noite ia longa e as nossas pegadas marcavam o imenso areal. As ondas batiam contas as rochas numa melodia certa e ritmada, enquanto tu te limitavas a abraçar-me como nunca o fizeras antes. Sempre soube que deixar partir os que mais amamos é difícil, mas tu já não amavas ninguém. Podias gostar de mim, mas não me amavas. Quando te olhei nos olhos e te pedi que me dissesses o que realmente sentias, tu apenas me contemplaste com um “não sei”. Senti o mundo desabar debaixo dos meus pés e a seguridade a que me habituaste nos últimos meses, desapareceu toda numa fracção de segundos. As lágrimas corriam umas atrás das outras, qual menina perdida no meio da multidão. Tu pedias-me para ter calma, “mas calma para quê se acabaste de destruir o meu maior investimento? Se acabaste de me levar o coração? Não é justo” era o que mais ecoava na minha cabeça. Quando finalmente tiveste um pico de coragem, envolveste-me nos teus braços, que já tantas vezes me tinham acolhido, mas desta, seria a última vez. Acabas-te a pedir-me desculpa, e desta feita, beijaste-me a testa e desapareceste no escuro, coberto de vergonha e arrependimento. Nesse mesmo momento, o mar revoltou-se e a melodia que uns minutos antes ainda me envolvia, tornara-se assustadora. Depois dessa noite? Aprendi a viver, não da maneira que me ensinaste, mas da maneira que me impuseram. Até um dia.