Estás a ouvir? Sou eu a chamar por ti. Muito baixinho, porque é quando falamos baixinho que as pessoas nos escutam, não se limitando apenas a ouvir. Tenho o coração na boca e junto com ele, tudo o que ele tem lá guardado para te dizer. Quer-te lembrar do passado, ou melhor, quer-te lembrar do nosso passado. Aquele que partilhamos por entre amores escondidos e beijos que ninguém via. Sabes que o segredo às vezes resulta num duplo efeito: tanto pode trazer o que o coração precisa, como também consegue tirar-nos aquilo que ele mais guarda. Aqui entre nós, acho que foi uma mistura de ambos, mas quando tirou mais do que deu, todo o coração se foi, acabando por ser o meu a ficar do teu lado. Estava magoado, cheio de feridas, a precisar que alguém, além de ti, cuidasse dele. Mas, afinal de contas, quem melhor para curar as feridas de um coração, se não aquele que as fez? De facto empenhaste-te e conseguiste. Moldaste o meu coração com essas mãos calejadas, como se já tivesses tratado mil e um iguaizinhos, mas pelo tempo e dedicação que lhe deste, custou-te ter de me deixar de novo com ele. Mas não te preocupes, mesmo que já não tenhas o meu coração nas tuas mãos, eu tenho as tuas mãos no meu, e o amor que tu lhe passaste com elas ficará para sempre, por mais homens que lá toquem.