Hoje apercebi-me que ainda me aconchegas o coração. Não por ainda o encheres com o teu amor, mas simplesmente por saber que ainda me desejas. Pode ser infantil e irracional, mas é uma forma de me manter com o coração quente enquanto espero pelo meu próximo amor, aquele que me espera em silêncio e que me procura mesmo sem procurar. Eu sei que ele existe e sei que anda por aí, e quem sabe um dia não me dê de caras com ele num lugar qualquer e aí troquemos de corações na hora. Mas como ainda não me dei de caras com ele e também ainda não trocamos de corações, preciso de viver contigo no coração, só por uns tempos para ele não ficar frio e não me deixe acolher quem me procura sem procurar.
Em tempos, achava que para viver no coração de alguém, era preciso pedir licença, porque tal como não se entra na casa das outras pessoas sem se pedir, também não se entra nos corações dos outros sem avisar. Mas pensando melhor, para quê avisar se são os outros corações a pedir para que nós os habitemos? O problema, é que às vezes esses mesmo corações que um dia nos quiseram acolher, fartam-se, como qualquer pessoa se pode fartar de outra, e aí corre-nos com sete pedras na mão e ficamos sem saber para onde ir. O pior, é que não sabemos se o nosso coração quererá ficar disponível para acolher um novo residente. Como se diz, cada casa é um caso e portanto cada coração é um caso diferente também.
Depois de chegar a esta conclusão, é que decidi que te queria continuar a deixar habituar a casa a que te habituaste tão bem. Eu ainda não saí da tua, porque o teu coração insistiu para que eu continuasse a frequentá-la, pelo menos aos fins-de-semana, para manter tudo em ordem e te aquecer o coração. Fiquei surpreendida, mas sabes o que ele me disse quando lhe tentei sacar a verdade? Disse que sou a única que sabe como mantê-lo quente a cada dia que passa, não como as outras que apenas conseguem arrumar a casa e depois saem para férias.