Assim como os tempos vão, as memórias voltam. Cada dia mais destruídas mas com mais saudade e vontade de deixarem de ser apenas memórias e passarem a presente. Faz bem recordá-las, mas só servem para isso e não podem ser reconstruídas como um castelo desmoronado, se não ninguém lhes dava o valor que têm. Quando elas vêm, eu volto a tempos em que se calhar fui muito mais feliz do que agora, mas em que não tinha o que tenho hoje. Sinceramente? É preciso deixarmos o que tivemos arrumado, porque o que conta não são as memórias do que aconteceu, mas sim, o que está a acontecer. No que toca a assuntos do coração, parece que escolhemos cada memória minuciosamente, uma a uma, de maneira a que só as partes boas nos toquem. Mas o amor nunca é apenas feito de partes boas. Também tem os seus baixos e as suas curvas e é dai que nascem os grandes amores, nunca da felicidade incondicional. O coração precisa de mudar de batida, precisa de ser tocado de maneira diferente, se não não vai mudar o que se passa lá dentro. Por muito que o neguem, ele tem uma parte racional que é capaz de ser mais racional do que a própria cabeça, se não como é que ele saberia que determinada pessoa é a certa? Ele sabe-o desde sempre, como se fosse uma lei universal que toda a gente deveria conhecer. Nós é que somos cegos ao que ele diz e não sabemos ver para além do óbvio. O cérebro mede as palavras, o coração mede os actos e os sentimentos que deles partem. Por isso é que eu sei que não me enganei e sim, sou feliz assim, entre memórias roubadas pelo tempo e toques que ninguém vê.