E se hoje eu te pedisse de novo que te abraçasses a mim, me dissesses que me amavas? Serias capaz de fingir outra vez? Brincas com os sentimentos dos outros como uma criança brinca com uma bola, foste abençoado com esse dom e sabes tirar o proveito, não fosses tu um homem com H grande. Para ti as palavras eram a maneira mais eficaz de demonstrar amor eterno e a cama de satisfazer o teu deleite mais absoluto, qual animal selvagem sedento de prazer. Foste capaz das maiores atrocidades só para demonstrares que me amavas, mas pelos vistos tratava-se apenas de uma demonstração. Tinha tanto amor para dar e escolhi-te a ti, feliz contemplado, que me recebeste de braços abertos e tiraste o máximo proveito, mas que mais tarde, quando te fartaste, fizeste como todos os outros que me receberam dessa mesma forma e deixaste-me, levando tudo o que me conseguiste tirar. E o meu coração foi contigo e em mim apenas deixas-te uma carrada de cicatrizes que insistem em não sarar relembrando cada noite de loucura e cada dia de paixão. Se um dia me pudesses trazer o que me tiraste agradecia, mesmo que o meu coração venha carregado de feridas e memórias, eu estou disposta a recebe-lo esperando alguém que trate dele.
O nosso coração é só um, apenas vai e vem conforme as pessoas entram e saem das nossas vidas, regressando sempre com as feridas com que nos deixou. Também não podemos esperar que alguém o cure por nós, muito menos a mesma pessoa que um dia o maltratou e o feriu. Sabes, o teu cheiro ainda está agarrado à minha pele e o teu toque ainda percorre o meu corpo. Será que é o teu espírito que durante a noite faz questão de regressar a casa? Ao menos sabes que se quiseres regressar a casa só o poderás fazer em sonhos, porque desta vez a minha porta fechou-se para ti de vez e não, não tens mais um lugar na minha cama, a mesma cama que milhares de vezes habitas-te mas que um dia irá ser ocupada por alguém que não goste de fazer demonstrações, mas sim alguém que goste de amar.