terça-feira, 29 de junho de 2010

O faz de conta


      Cada vez percebo menos porque é que te escrevo este pequeno diário, carregado de memórias e boas intenções, para ti e até mesmo sobre ti. Provavelmente ainda acredito que isto te trará de volta. Mas não, porque tu continuas a tua vida e eu continuo a minha e ao fim de cada dia, em vez de escolher continuar a vivê-la, decido parar para viver, durante uns instantes, o meu passado contigo. Talvez tu prefiras andar com a tua para a frente mas, enquanto não resolveres o que puseste para trás das costas, não sairás do labirinto que construíste à tua volta.
      Sinceramente, gostava de um dia mais tarde poder partilhar contigo todas estas palavras, só para ver a tua reacção. O mais certo seria ficares à toa, sem saber o que fazer e provavelmente não farias nada. Tu percebes as coisas, porque eu sei que sim, apenas preferes fazer de conta que não percebes para não teres de encarar a força das palavras e acumulas tudo o que não queres encarar, formando uma gigante bola que te vai perseguir ao longo desse labirinto, que tu mesmo criaste, até ao fim da tua vida.
      A cada pensamento que transponho para o papel, percebo que tenho muito a dizer mas, nem sempre, existem as palavras correctas para isso. Talvez devido à enormidão que estas carregam ou só porque, simplesmente, ainda não lhes foi atribuído um espaço no dicionário. Prefiro acreditar que a primeira opção é a correcta e aí, juro-te que dou o meu melhor para me desenvencilhar com as palavras de que disponho. Gostava que ao leres estas mesmas palavras ,que estou certa de que nunca te direi, percebesses exactamente o que eu pretendia. Eu sei que tu és bom nisso do faz de conta, mas quando estás sozinho, basta sentires as coisas como o teu coração te manda, e não como a tua mente pede. Só assim vais descobrir o caminho para sair do teu labirinto, esse mesmo que não te deixa alcançar o labirinto de mais ninguém.

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